Que o Evangelho esteja com você

Forma & Co — Re-Vision — Pop Culture Icons
Ilustração via forma.co

Antes de ler, um recado: Essa reportagem foi escrita para uma revista há uns quatro anos atrás, mas não foi publicada. Relutei muito em publicar (quatro anos!!!), porém com respeito as fontes e a todo o esforço de dias que tive preparando, decidi compartilha aqui hoje nesse 4 de maio, uma data especial aos geeks ❤

Especialistas falam sobre como a Cultura Pop tem potencial de espalhar a mensagem bíblica e de que forma o receio ou preconceito em lidar com as diversas mídias acaba por fazer o evangelho impopular – o contrário do que a Bíblia e o próprio Cristo outorgaram

A maioria dos cristãos, a cada geração que passa, espera o segundo advento do Messias, isto é, a volta de Jesus Cristo. No entanto, “esperar” não é sinônimo de ficar de braços cruzados sentado debaixo de uma sombra fresca. Pelo contrário, os cristãos entendem que possuem uma missão a cumprir, a de mostrar ao maior número de pessoas possível a liberdade encontrada na esperança da salvação. Para que essa missão seja realizada de forma efetiva, é necessário falar a mesma língua do outro, entender “a sua praia”, e assim comunicar o evangelho de forma popular de acordo com as características da cultura vigente.

Definir o que é cultura, por sua vez, é algo complexo. Especialmente partindo do pressuposto de que cada continente, país, estado, cidade e até mesmo cada lar tem sua própria cultura. O doutor em comunicação social Allan Novaes explica que, em termos gerais, cultura é expressão humana. Contudo, ao longo da história ela foi classificada em erudita e popular. A primeira é mais comum ao público intelectual, à “elite” com educação formal – como ópera por exemplo. Já a cultura popular alcança a maior parte da sociedade, o vulgo “povão”.

No final do século 19 e início do século 20 surge a “indústria cultural” como uma fase avançada do capitalismo. Através de empresas, ela pega a essência de ambas as culturas e forma a cultura de massa, que Allan Novaes explica ser um conteúdo formatado e padronizado. “Dentro da cultura de massa existe a Cultura Pop que foi produzida para manter a massa na superficialidade, mas acabou por ser consumida com maior profundidade gerando reflexão”, explica Novaes.

Em termos mais simplificados, a Cultura Pop é um produto midiático para a indústria do entretenimento. Essa cultura vem do diálogo com o povo “comum” e não com a classe alta. Ela é profusamente expressa em materiais como histórias em quadrinhos, filmes, games, séries, músicas etc. Essa é, de fato, a cultura vigente em nossa geração, e Novaes a reconhece como um campo missionário fértil que precisa ser conhecido. Como o mundo é globalizado, a melhor e mais eficiente forma de espalhar o conteúdo da indústria cultural é através das mídias.

Proliferar a mensagem do evangelho através dessas mídias soa como algo positivo, afinal, todos gostam desse tipo de produto. No entanto, por muito tempo a mídia foi vista como vilã; um objeto de manipulação. Desde os tempos de Gutemberg com a imprensa até a internet na década de 1990, todas as novas formas de comunicação que surgiam eram descartadas por alguns discursos religiosos. Allan Novaes explica que “como a igreja não sabia lidar com a tecnologia e não a entendia, achava mais fácil se afastar dela”.

Why so serious?

Fanart de Nikita Abakumov

Alguns cristãos ainda têm preconceito sobre a Cultura Pop. De acordo com o doutor em teologia, Iuri A. Reblin, isso acontece porque muitos grupos alegam a necessidade de se afastarem das “coisas do mundo”. Esse “mundo”, contudo, é representado pela criação de Deus e também é o palco onde a vida humana se desenrola e no qual a fé é vivenciada, proclamada e testemunhada. “É justamente a partir deste mesmo mundo e das outras pessoas que podemos tentar conhecer Deus, não fora dele”, afirma. Para Reblin, a maneira de pensar, de viver e de crer é construída no mundo, mediado pela linguagem e pela cultura e, portanto, a vida não existe independente dessa relação.

Outro motivo para que alguns se afastem da Cultura Pop tem que ver com o fato de ela mesma ser uma produção artística, lidando constantemente com temáticas como prazer e desejo. Esse afastamento é fortalecido porque “há entre aqueles grupos religiosos os que querem controlar os desejos e os prazeres de seus fiéis, muito embora seja um controle ilusório”, adverte Iuri. Segundo ele, o preconceito que a Cultura Pop sofre também pode estar relacionado à ambiguidade que ela apresenta – como qualquer outra produção cultural – e por carregar valores que podem ser contraditórios. “Nenhuma mídia, nenhum produto cultural em si é simplesmente bom ou mau”, alega. A qualidade do produto está na forma como a pessoa recebe, interpreta e ressignifica ele.

Sobre a recepção desse tipo de conteúdo, a especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e neuropsicologia, Simone Miranda Felipe, afirma que nem todos os conteúdos da Cultura Pop são propícios para todas as idades nem para todos os tipos de pessoas. “Uma pessoa com problemas emocionais pode ter dificuldade em absorver determinados conteúdos”, conta. Simone já chegou a recomendar para pessoas ansiosas ou deprimidas não assistirem ou lerem determinados conteúdos para evitar que desencadeassem situações como tristeza ou desespero profundo. “A pessoa tem acesso a esse tipo de conteúdo e interpreta de acordo com seus próprios esquemas”, esclarece.

Simone explica que o cérebro humano se modifica em contato com o meio durante a vida inteira. Existe a teoria de resposta cognitiva que parte do princípio que a persuasão induzida por uma comunicação é na verdade uma autopersuasão. “Ela é produzida pelos pensamentos que a pessoa tem sobre o que lê, ouve ou apenas prevê”, adverte. A mente humana, de acordo com Miranda, associa o que o indivíduo está “preparado” a associar.

Uma vez que a Cultura Pop é veiculada pela mídia, ela lida com narrativas e enredos que são representações de uma forma de pensar, agir e crer, explica Iuri. Consequentemente diferentes símbolos e elementos religiosos podem surgir nessas narrativas. Muitas delas falam sobre vida, morte, esperança e amor. “Logo, é possível aprender sobre teologia a partir da Cultura Pop”, reconhece. Ainda assim a ficção, seja ela em forma de história em quadrinhos, livros, filmes, séries ou letras de música “viajadas”, recebeu e recebe muita crítica religiosa pelos supostos males que a mesma ocasiona.

Para os Adventistas do Sétimo Dia, essa crença provém dos escritos de Ellen G. White, que escreveu em seu livro Conselhos aos Professores Pais e estudantes a seguinte afirmação, entre outras semelhantes: “Todos declarariam ser ela [a Bíblia] o livro mais interessante que já manusearam, se a sua imaginação não se houvesse pervertido por provocantes histórias de índole fictícia.”

Outro argumento de Ellen G. White que aconselha os cristãos a não se envolver com esse conteúdo é o fato de estimular sentimentos negativos desnecessariamente. Simone, de fato, relata que diante de uma situação estressante, o cérebro libera altas taxas de um hormônio chamado cortisol. Esse hormônio, quando em níveis elevados e de forma constante, prejudica a memória. Porém, precisamos considerar que nem tudo que é estressante para uma pessoa será para outra. “Vai depender muito da maneira como o sujeito processa a informação, e isso tem a ver com a história de vida dele”, afirma.

O doutor em Letras Clássicas, Milton Torres, afirma que o que realmente incomodava Ellen G. White eram livros com conteúdo muito “barato”, ou seja, frivolidades. Além disso, naquela época não era comum estudar literatura nem mesmo nas universidades americanas. Logo, como as pessoas não tinham formação sobre o assunto, era difícil definir o que era boa literatura ou não. Por isso, na opinião de Milton, era mais fácil censurar todo tipo de ficção. Isso é no mínimo curioso, pois a própria Bíblia conta com ficções expressas por Jesus, como é o caso das parábolas. “Nem toda literatura é própria para todo leitor, pois tem leitor que é inexperiente”, declara Torres.

Enquanto adultos conseguem ter mais discernimento frente aos produtos midiáticos, as crianças e adolescentes são mais vulneráveis. A maior preocupação de Simone é que as crianças fiquem alienadas ou tomem informações distorcidas como verdade, e por isso aconselha o acompanhamento dos pais para dar atenção a conteúdos questionáveis. O contrário também pode ocorrer como alienação quando o indivíduo não exerce senso crítico a respeito do que está exposto a ele.

Milton assume que lê qualquer coisa por ter maturidade e consequentemente senso crítico para não ser facilmente influenciado. “Uma pessoa madura pode ler tudo”, completa. Adventista desde os 17 anos de idade e formado em teologia, ele admite que a igreja cristã em geral tem problemas em relação à ficção. Em sua opinião, há muitas citações em que Ellen G. White incentiva a produção de literatura e estudo da mesma. “Mas a tradução não é muito precisa”, revela. Em seu artigo “Ellen G. White e a ficção literária” ele mesmo traduz um texto da profetisa no qual ela diz: “No futuro haverá mais premente necessidade de homens e mulheres de qualificações literárias do que houve no passado.” Assim como no passado, atualmente muitas coisas já amadureceram na igreja. Milton acredita que no futuro os cristãos estarão mais abertos e mais maduros para lidar com esse tipo de conteúdo.

Funny Art History and Pop Culture Composites by Dan Cretu
Arte de DAN CRETU

O antigo senso comum de que a ficção deturpa a mente ganhou novos estudos que tem mostrado o contrário. Keith Oatley é psicólogo cognitivo pela universidade de Toronto (Canadá) e escritor de literatura fictícia. Em 2016 ele fez uma pesquisa intitulada “Ficção como simulação”, a qual revela que a leitura de ficção promove empatia. A pesquisa mostra que os melhores tipos de história para promoção de empatia são romances e histórias de detetive. Isso acontece porque o leitor compreende a outra pessoa no que tange amar alguém e acompanha a mente do antagonista. “Nós ficamos surpresos em ver que os efeitos que os leitores experimentaram intuitivamente eram estabelecidos empiricamente”, afirma.

Oatley explica que a ficção é a simulação de egos em interação. Acompanhar um enredo com personagens e circunstâncias complexas que não se encontra no cotidiano inclui fazer inferências e se envolver emocionalmente. “A ficção pode ser vista como uma forma de consciência do ego e do outro que pode passar de um autor para um leitor ou espectador, e pode ser internalizada para aumentar a cognição cotidiana”, afirma o psicólogo.

Simone alega que assim como a saúde física é importante, a emocional não pode ser deixada de lado. Os pensamentos e sentimentos são geradores de comportamentos. “Os meios de comunicação não são os principais responsáveis pelo aumento de problemas, mas tem poder de estimular algumas situações considerando sempre que a pessoa tem crenças a respeito disso”, esclarece. Ela aconselha que se façam boas escolhas que vão desencadear sentimentos e pensamentos positivos.

O psicólogo acredita que a ficção como uma simulação de situações cotidianas ajuda o indivíduo nas suas interações com o mundo social. “O mundo social é complexo e, embora nós humanos sejamos bons em entender o outro, não somos sempre tão bons assim, simulações literárias nos ajudam a promover isso”, comenta. Além da pesquisa dele, outras têm mostrado que a ficção aborda temas e situações de uma forma que nem sempre é fácil de abordar de outras maneiras. “Ficção é uma forma de consciência que pode ser passada de uma mente para outra de tal forma que pode aumentar nosso pensamento do dia a dia”, conclui o psicólogo. Mesmo assim, Keith afirma que mais pesquisas no ramo precisam ser feitas.

Quanto a mensagens subliminares, a neuropsicóloga afirma que vários estudos revelam ser necessário o indivíduo perceber a mensagem para ser atingido, ou seja, de forma consciente. Do contrario a mensagem subliminar é incapaz de iniciar um comportamento. “Eu só percebo o que eu estou preparada para perceber, e eu só arquivo o que eu percebo”, explica. Se alguém vê uma flor, precisa saber que aquilo é flor para notar a presença dela e então arquivar a partir da percepção. Um exemplo mais cotidiano seria o seguinte: andando na rua você vê várias pessoas, mas só percebe os rostos de conhecidos ou que lhe chamam a atenção por algum motivo.

Considerando isso, o roteirista Brian Godawa acredita que conhecer o autor de uma obra ajuda a interpretar sua intenção de forma mais clara. Saber que Ridley Scott é ateu explica e clarifica porque ele escolhe fazer Deus parecer como uma criança birrenta em Exodus: Gods and Kings, por exemplo. Por outro lado, ele também acredita que em alguns casos o significado da obra pode transcender o autor se ele permitir mais ambiguidade. Godawa cita o filme Mulher Maravilha do qual apresenta valores feministas e tradicionais.

Ellen G. White escreve em seu livro Fundamentos da educação cristã que:

o intelecto humano necessita de educação literária bem como de instrução espiritual para que se desenvolva harmonicamente; pois sem educação literária os seres humanos não podem ocupar devidamente diversas posições de responsabilidade.

Brian confessa o seu desejo de que os cristãos apreciem o poder da história de encarnar visão de mundo e incorporar um argumento que toca a humanidade de uma forma que a razão não faz. “Quanto melhor entendermos como a historia incorpora visões de mundo, melhores espectadores e contadores de histórias teremos.  Precisamos nos educar”, conclui.

O estudante de sociologia Gabriel Sanchez afirma que o próprio Deus sempre trabalhou dentro da cultura humana em cada época, dependendo da capacidade intelectual e científica de cada sociedade. “O ser humano vive em constante mudança, é um ser dinâmico e curioso”, declara. Mesmo assim, na opinião dele, é fato que a verdade do evangelho é imutável e transcende cultura uma vez que é possível encontrar “fragmentos” do evangelho em cada cultura e forma de expressão humana ainda que seja algo imperfeito.

O apóstolo Paulo seguia o exemplo de Jesus, que falava por parábolas com o povo usando ilustrações do contexto rural e agrícola da época levando o concreto para o espiritual.  Allan Novaes revela que a ideia é tornar o evangelho acessível e inteligível para quem está recebendo. É o evangelho na sua grande maioria das vezes que vai até as pessoas, então ele precisa ser interessante a elas. Seguindo essa lógica, se alguém produz algo porque precisa gritar ao mundo o que descobriu e mudou sua vida, os cristãos não deveriam se calar sendo eles os portadores da mensagem de esperança e salvação ao mundo.

we can do it!

Sabendo que todo o preconceito gera prejuízo, os professos cristãos que tem um pré-julgamento ou pré-avaliação da cultura pop não agregam benefícios a vida religiosa. Iuri A. Reblin comenta que preconceitos são fundamentados no campo da subjetividade que é um terreno muito difuso e pouco tátil. Ele acredita que não se pode restringir as “coisas de Deus” apenas ao que acontece dentro das paredes da Igreja. “As coisas de Deus estão onde a vida está sendo vivida, isto é, no cotidiano, nas relações, também nos bens que consumimos”, declara. Tendo em vista esse aspecto, é importante repensar e abrir o leque de possibilidades ao conceituar ou compreender o que seria ou não de Deus.

“Tanto a superaventura quanto as narrativas bíblicas em geral são histórias de salvação, se em uma é Deus que salva a humanidade, no outro é o super-herói”, relaciona. Os super-heróis por sua vez não são muito bem vistos por alguns cristãos, por alegarem que se trata de uma idolatria ou paganismo pós-moderno. Iuri adverte que a devoção religiosa é diferente do apreço a um personagem ou ícone da cultura pop como Michael Jackson ou Aline Barros, por exemplo. “Claro que em algumas circunstancias pode haver fanatismo de um público sobre determinado ícone, assim como pode haver fanatismo religioso”, completa. Nessa situação, nem um nem outro é saudável. Reblin apela ao cuidado para não ver religião demais onde ela não existe.

Se por um lado a arte é uma imitação e representação da realidade, por outro ela também pode mudar a forma como as pessoas abordam a cultura, apresentando novas ideias. A igreja já percebeu que a cultura pop pode ser uma ferramenta de comunicar seus ideais e valores, mas ainda engatinha para a efetividade. Brian Godawa diz que o erro mais comum dos cristãos é procurar ser tão claro com a mensagem que ela se torna um sermão, o que não é atrativo para o público que se deseja alcançar. “Se você deixar algo no ar, algo ambíguo, o público vai estar mais disposto a ouvir você porque eles estarão descobrindo tudo por si mesmos”, comenta.

Para o roteirista, arte e sermão são coisas diferentes e devem ser abordados de forma diferente. O segundo problema é quando a arte vira uma ferramenta de forma que a criatividade é desvalorizada em favor da racionalidade. O mais eficiente seria deixar a arte se validar por ela mesma, assim a mensagem é encarnada dentro das escolhas e comportamentos de um personagem, por exemplo. Alguns cristãos sugeriram que no final do filme A paixão de Cristo fosse colocado o famoso verso de João 3:16. “Esses cristãos não entendem o poder da parábola como arte”, afirma Brian.

“Quando você vai para a igreja, escola, shopping, você carrega a sua cultura, sua forma de pensar e acaba praticando”, afirma Gabriel Sanchez. Para ele, o cristão diante da cultura precisa ter a cosmovisão cristã como plano de fundo firmado, mas mesmo com isso não deve se fechar às culturas ou à ciência. “Ele pode usar essas ferramentas ou formas de expressão para atingir essas pessoas que já são influenciadas por essa cultura”, comenta. Dois exemplos clássicos disso são As crônicas de Nárnia, escritas por C. S. Lewis e a trilogia O senhor dos anéis, desenvolvida por J. R. R. Tolkien. Em ambas as sagas, os autores utilizaram a cosmovisão cristã para desenvolver uma ficção e a partir desse mundo imaginário transmitiram ideias e fragmentos do evangelho. Gabriel acredita que através desses livros os escritores passaram sua crença em uma outra linguagem. “Jesus fazia isso para que fosse compreendido através de parábolas”, completa.

arte de Taylor Roseart

“Filmes são parábolas encarnadas”, revela Godawa. De acordo com o roteirista, os filmes contam história através de eventos e personagens que levam a uma conclusão sobre como se deve (ou não) viver a vida. Como cristão, Brian acredita que seja possível desonrar a Deus com a expressão artística se a mesma reforçar um pensamento mau ou encorajar futilidades, bem como não mostrar as consequências de atitudes negativas. Para ele, ter Deus não significa sempre ter a melhor vida ou ser livre de falhas. “A promessa de que Deus estará lá mesmo no sofrimento ou apesar de nossas falhas nos dá esperança”.

Brian revela que histórias são visões de mundo e redenção. A estrutura é sobre um protagonista que tem um objetivo e um antagonista externo que quer o impedir de alcançar o objetivo. Para “piorar”, o protagonista tem uma falha interna que o impede de alcançar o objetivo. Todos os obstáculos juntos fazem parecer que ele não vai conseguir. Mas em um dado momento ele percebe sua falha interna e muda sua visão ou comportamento, o que lhe dá o que faltava para vencer o inimigo. “Se você ler o testemunho do apostolo Paulo sobre redenção em Atos 26, contêm todos esses mesmos elementos”, declara. A redenção é a recuperação de algo perdido, e a estrutura de uma boa história é a jornada de um protagonista que recupera o que perdeu ou consegue o que faltava em sua vida.

Na opinião de Gabriel, a pior consequência de não adequar o evangelho a cultura vigente é separar as pessoas que estão inseridas nessa cultura de entender o evangelho.  Para o estudante, a igreja precisa falar a língua das pessoas ou do contrário não conseguirá se comunicar com elas. “Jesus no passado não mudou seu principio, seu jeito de viver, mas influenciou a cultura da época se utilizando da própria cultura”, declara. Mesmo que Cristo andasse com os considerados da “margem” e escoria da sociedade, ele não praticava as coisas que aquelas pessoas faziam e sim exercia influência sobre eles.

Existem produtos da cultura pop que são criados por editoras e instituições religiosas para propagação da fé, como é o caso da revista Nosso Amiguinho e os quadrinhos de Smilinguido. Por outro lado, há produtos não produzidos por instituições religiosas ou empresas veiculadas a elas, mas que também trazem temas religiosos, a exemplo das histórias de super-heróis. “Personagens como Superman, Homem-Aranha e Demolidor são bem religiosos, tanto em suas origens quanto em suas motivações ou em determinados arcos narrativos”, revela Iuri Reblin. A famosa frase do Homem-Aranha, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, remete a Lucas 12:48 que diz: “a quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais ainda será requerido”. Em diversas narrativas, inclusive, o herói vive vários dilemas existenciais e aparece em oração a Deus procurando ajuda ou consolo.

Essa é a cultura em que estamos inseridos. Isso quer dizer que entendendo suas demandas, interesses e valores, fica mais fácil dialogar com ela e aproveitar as oportunidades dentro desse contexto para a propagação do evangelho. Em sua primeira carta aos Coríntios, Paulo fala sobre a adequação do evangelho: “fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns; e eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele” (1 Coríntios 9:22 e 23).


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